A MINHA HISTÓRIA COM G.G. ALLIN - Guilherme Lucas
"A MINHA HISTÓRIA COM G.G. ALLIN
por Guilherme Lucas
Primavera de 1988. Foi com 24 anos, finalista do Curso Superior de Desenho numa escola de arte do Porto (o curso nunca me serviu para nada),
guitarrista na 2.ª formação dos CÃES VADIOS no seu período musicalmente mais radical (Punk Hardcore),
"activista" em quase tudo o que tivesse a ver com Punk e Rock'n'Roll, foi através do meu bom amigo de longa data Óscar
(na altura baixista dos CAGALHÕES, depois CÃES VADIOS, SPEEDTRACK, e actualmente nos MOTORNOISE), que tomei conhecimento da existência de G.G. Allin.
Assinante do fanzine punk norte-americano "Maximum Rock'n'Roll", o Óscar alertou-me para a leitura de uma entrevista de
"um gajo louco, decadente, alucinado, impossível de existir, que tocava numa banda Punk e que dizia mal dos Punks,
dizia asneiras, andava à pancada com o público e defecava e urinava em palco,
fazendo com que todos os seus concertos fossem interrompidos e o gajo preso ".
Disse-me que eu iria certamente gostar bastante da entrevista porque era cómica, louca e terrivelmente sincera.
ERA TUDO ISSO E MUITO MAIS!
Extremamente receptivo e "habituado" a tomar contacto com o que de mais radical se fazia na época dentro da cena Punk Hardcore mundial e não só,
a inusitada descoberta de G.G. Allin teve em mim o efeito de um murro certeiro no meu "conservadorismo" analítico desse período (que já era suficientemente radical para muitos),
pois arauto de tão brutal ideologia e atitude niilista dentro do Rock (que não fazia aparentemente sentido nem era politicamente correcto
dentro dos radicalismos vigentes dentro do meio à época), G.G. Allin levava e ampliava o conceito de Rock'n'Roll para uma vertente de abismo e inferno
nunca considerado por mim e por outros tantos milhares como eu, inovador e original à sua maneira,
o que me levou a reflectir "duramente " sobre o meu sentido de ser Punk e do estado do Rock "underground" nos anos 80.
Cresci com G.G. Allin, fiquei fã dele até aos dias de hoje, e apesar de continuar a não subscrever parte do seu comportamento excessivo e cretino,
sempre entendi que a sua incontrolável violência e a sua urgência de ataque a tudo e a todos era a forma mais lógica, rápida e sincera
que G.G. encontrava para sobreviver, de cabeça erguida, e de uma forma sincera e primitiva, no Rock'n'Roll "underground".
G.G. Allin não iria salvar o mundo nem muito menos o Rock (se é que isso fosse necessário), mas era bom para mim saber que existia um espécime deste calibre,
único e original no meio. G.G. Allin, pela sua selvática, e por vezes incoerente atitude, esteve sempre além do seu tempo, mesmo após a sua morte, continua a ser actual,
original e aparentemente insubstituível.Obviamente o culto actual que está ligado à sua imagem é enorme e universal, impensável há uns anos atrás.
Certamente todos quanto amam o Rock'n'Roll não poderão ficar indiferentes à sua vida e legado, para bem ou para mal.
A informação sobre G.G. Allin (fanzines, cd's, dvd's, net, etc), é gigantesca e esmagadora nos dias de hoje, objecto de culto para muitos, de ódio de estimação para milhões,
por isso qualquer um poderá saber mais sobre esta personalidade incomum do Rock, bastando para isso fazer uma simples pesquisa na Net.
Em Abril de 1988, imbuído de todo o meu espiríto Punk Do It Yourself, fiz uma folha volante, formato A4, fotocopiada, cento e tal exemplares,
estilo fanzine Punk, chamado TOSSE CONVULSA; era aperiódica e distribuida gratuitamente.
Toda a comunidade punk portuense e alguma lisboeta, bem como curiosos do Rock e outros, tomaram contacto com a "folha de notícias musicais e não só".
O destaque do 1.º e único número desta folha era dedicado a G.G. Allin. Não era mais do que a tradução tosca do artigo que lera na "Maximum Rock'n'Roll".
O outro lado da página era dedicado a Will Shatter, malogrado baixista dos Flipper, que falecera por overdose. Havia um depoimento do Jello Biafra sobre o músico.
SEI que fui o PRIMEIRO a divulgar a existência de G.G. a uma comunidade "underground" nacional pequena, em rápido crescimento, quer através do TOSSE CONVULSA,
quer através de uma crónica radiofónica na RÁDIO CAOS (saudosa época das rádios piratas) no programa semanal de divulgação musical Punk Hardcore "MINUTO DE ÓDIO",
o que possibilitou o pedido de mais informação por parte de alguns interessados sobre o G.G.
Sempre tive orgulho nisso, e penso que apesar de já terem passado tantos anos, contribui um pouco para a divulgação inicial do personagem em Portugal.
QUERO CONTINUAR a acreditar que sou ainda o único português em Portugal a ter sido o primeiro a escrever uma carta ao G.G. Allin e a receber uma carta dele.
Sei também que fui o PRIMEIRO a comprar um LP do G.G. (encomendei directamente à Homestead Records), e a descobri-lo musicalmente,
através do álbum "YOU GIVE LOVE A BAD NAME" de G.G. ALLIN & THE HOLY MEN.
Num período actual em que qualquer coisa feita ou "tocada" por ele tem valor para coleccionadores e fanáticos de G.G. no mundo inteiro - então acredito que fui pioneiro em Portugal.
É neste contexto, e depois destes anos todos, que exponho e partilho aqui com todos os interessados e fãs,
todo o "material" inicial de divulgação em Portugal de G.G. Allin.
Há uma pequena história sobre a carta: Julgando que G.G. não responderia à minha carta a menos que lhe prometesse enviar algo em troca (ele insinuava isso nas entrevistas que dava),
informei-o que caso ele me respondesse, lhe enviaria em troca uma garrafa de vinho do Porto. Ele respondeu.
Fui comprar a prometida garrafa a uma tasca que já não existe em frente ao quartel dos Bombeiros Voluntários do Porto, ao lado da Avenida dos Aliados,
onde na altura com todos os meus amigos faziamos tertúlias e conspirações Punks de elevado teor alcoólico.
Na altura quase que nunca tinha dinheiro (sobrevivia de uma miserável mesada que só dava para a cerveja),
e quando fui despachar a dita garrafa nos correios para o G.G., a burocracia era tal, desde a necessidade de comprar uma caixa standard para empacotar até pagamentos extras,
taxas aduaneiras, etc, que decidi levar a garrafa para casa e bebê-la.
O G.G. nunca recebeu a garrafa que certamente (acho eu) beberia num dia. Eu fui bebendo-a ao longo de meses!
PERDOA-ME G.G., ONDE QUER QUE ESTEJAS POR NÃO TER CUMPRIDO A MINHA PROMESSA!
- 25/09/2006 -
É a altura de derrubar esta situação e declarar guerra às editoras, estações de rádio, publicações, bares
e qualquer um que promova a chamada "cena" que existe actualmente. Precisamos destruir tudo e ficarmos
com o que está nas mãos de empresários idiotas e conformistas. Mas a acção deve começar agora e sangue poderá ser derramado. (...)
Quando nasci em 1956, o Rock'n'Roll estava a começar a aparecer. Porquê? Porque eu o criei. Eu criei Elvis. Eu fiz com que tudo acontecesse.
Mesmo antes de nascer eu já estava a comandar. Mas ao longo dos anos as pessoas deixaram que a coisa se desvirtuasse.
É por isso que estou pronto para tomar conta de tudo novamente. Ninguém mais teria colhões para isso.
Todos decepcionaram-me. O dinheiro e o comercialismo fizeram com que todos se vendessem. Até o Iggy decepcionou-me. Os Sex Pistols decepcionaram-me.
Sid decepcionou-me quando se apaixonou (é por isso que estão mortos).
E agora temos os Ramones a elogiar bandas como os Guns'n'Roses, que representam tudo o que devíamos destruir.
Mas agora estamos em 1991. Esta é a década para a derradeira mutilação sangrenta. É o momento de tirar o Rock'n'Roll das mãos das massas
e devolver às pessoas que não aceitariam o conforto e a conformidade a nenhum custo.
Então hei-de suicidar-me em pleno palco e o sangue do Rock'n'Roll tornar-se-à o veneno do universo para sempre.
Olha ao redor e vê o que está a acontecer. Editoras invertebradas beijando o cú do sistema, pressionadas pelo dinheiro dos média e pelos políticos. (...)
Devemos sabotar as editoras não comprando os seus produtos. Um boicote. Se quiseres um disco, rouba-o.
Assim não ficarão com o teu dinheiro. Nós precisamos de parar de alimentá-los.
O teu apoio deve agora convergir para mim - G.G. Allin, o comandante líder e terrorista do Rock'n'Roll.
Por quê é que achas que estou na prisão? Porque eles sabem o que eu sou e temem a minha verdade.
A nossa sociedade quer parar a minha missão. Eles querem é fazer-te uma lavagem cerebral e manter-te ligado à MTV, nos seus estagnados e seguros mundos.
É necessário destruir o Rock'n'Roll. Eu sou o salvador. É por isso que sou considerado uma ameaça à sociedade."
enquanto cumpria pena na penitenciária de Jackson State, U.S.A.
(...)